segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Oldenburg, 19 de fevereiro de 2011.


Ontem fiz minha terceira e última apresentação aqui em Oldenburg, foram 3 ao todo, organizadas pelo staff do Kulturetage, instituição parceira aqui na Alemanha: uma realizada na Grundschule Alexandersfeld e outras duas realizadas na Grundschule Dietrichsfeld, estas duas últimas tendo como apoiador financeiro o Projekt Ökovest.
Na escola Grundschule Alexandersfeld fizemos a apresentação na quadra de esportes, o chão era uma espécie de compensado, o que permitia o desenvolvimento da performance, a quadra aquecida, o Kulturetage providenciou o som e o espaço permitia a presença das 170 crianças, ou seja, acontecimento na Alemanha, tudo funcionando! Confesso que enquanto me preparava para esta situação me veio à mente uma outra semelhante, vivida no sertão do Ceará, numa cidade chamada Santana do Cariri. Podem acreditar, no inverno alemão vivi uma situação que me fez recordar o sertão cearense. Por que? Estava eu na mesma situação, apresentando um espetáculo de dança-teatro para crianças numa quadra de esportes! Lógico que não dá pra comparar as condições de cada espaço, mas a situação era bem parecida. E isso me fez refletir sobre a proposta do Teatro Xirê lá no começo: queria eu fazer um trabalho de democratização da dança contemporânea e trabalhar para crianças foi também um passo neste sentido, formar olhares - no melhor sentido da palavra, estimular a fruição da linguagem.
Não temos como dimensionar o sucesso deste empreendimento, mas certamente, temos nos atrevido bastante no empenho, o que nos levou a mostrar o trabalho nas situações mais diversas e adversas para os mais diferenciados públicos, buscando sempre respeitar as condições mínimas para sua realização.
Resultado: emoção novamente! As fotos 1 e 2 são desta primeira escola e a pequena filmagem dos aplausos no final também, as crianças pedem “bis!” em alemão e minha cara de boba no fim da filmagem é porque não entendia o que eles diziam.


 


As apresentações seguintes (seguinte mesmo, no dia seguinte, foram 3 apresentações seguidas, às 10 da manhã, com a temperatura média de 4o ao ar livre) aconteceram na escola Grundschule Dietrichsfeld. O espaço era bem menor, e lá vou adaptar tudo para o trabalho acontecer. No primeiro dia de apresentação, o público que estava sentado no final da sala perdeu a conexão com o espetáculo em alguns momentos, o espaço não estava muito bem organizado para as crianças (também acontece na Alemanha...) e os que estavam sentados mais atrás não conseguiam ver o que estava acontecendo, e, é claro, a criança se cansa depois de algum tempo. Do meu ponto de vista nada grave, pois conseguia senti-los presentes em muitos momentos do espetáculo. Mas para a direção da escola... ui, gravíssimo (é, estamos na Alemanha onde todos os problemas devem ser resolvidos, e bem resolvidos). Um problema que no fim das contas acabou por ser bem positivo, uma vez que gerou uma conversa (um pouco tensa pra mim, é verdade) sobre o conceito do trabalho, a turbulência que ele causa na platéia, a necessidade das crianças fazerem suas construções a partir da vivência cinestésica e por aí vai. Para o dia seguinte reorganizamos o espaço de modo que ele oferecesse melhor visibilidade para todos os presentes e conversamos com as professoras, pedindo-lhes que elas deixassem as crianças se manifestarem durante o espetáculo (falarem, rirem, comentarem os acontecimentos entre elas) sempre respeitando o espaço da bailarina (ou seja, eu!). E tivemos mais uma linda performance, não falo por mim só não, falo pelo acontecimento como um todo, porque o espetáculo sempre acontece com o público.
No final dos dois espetáculos conversamos com as crianças (fotos 3 e 4) e depois nos demos conta de como esta conversa ajuda a desmistificar e diminuir preconceitos sobre o Brasil. Explico: estamos numa cidade ao norte da Alemanha onde as crianças estão assistindo um espetáculo de dança-teatro (que para elas também é novidade porque são crianças e seus olhares ainda estão frescos para o mundo) de uma brasileira, que não entende o que elas falam, que lhes traz outro tipo de informação que não é samba, nem futebol, nem capoeira (com todo o amor que tenho pelo samba, pelo futebol e pela capoeira) e que fala português. Fomos assim percebendo que vamos abrindo um outro canal de curiosidade sobre o país.
Na verdade quem chamou a atenção para isso foi o amigo Frizz Lehner, do Theater Rootslofel (de Nuremberg) que veio até Oldenburg especialmente para nos visitar e assistiu minha segunda apresentação! No projeto enviado à Funarte apontamos que ele era resultado de um modo conseqüente de criar parcerias e, agora que os colegas, mesmo os que não estavam originalmente no projeto, começam a fazer-se parceiros em pequenas ações, presenças, desejos, essa rede vai se evidenciando. Um modo de pensar a atuação artística que agradeço muito à parceria com Norberto Presta.




14 de fevereiro de 2011, em trânsito de Berlim para Oldenburg, finalizando Zakinthos.


Na Grécia, passamos dois dias por Atenas para chegar à ilha de Zakinthos, onde desenvolvemos o projeto em parceria com a brasileira Lis Nobre, do Ambrosia Theater. Residindo na ilha há dois anos ela tomou conhecimento do projeto e arregaçou as mangas para que nós desviássemos nosso caminho até lá. Pretendíamos realizar o workshop e a apresentação do “Quando Crescer, Eu Quero Ser...”, mas a apresentação ficou pra nossa próxima visita (ou seja, pra continuidade do projeto, segundo os nossos desejos). Realizamos apenas o workshop, para um grupo de 11 pessoas, bastante heterogêneo, que nos obrigou a estar bastante atentos na sistematização da proposta. Outro fator que nos exigiu atenção e objetividade na orientação do trabalho foi a língua, porque ministramos o curso entre o inglês, o grego e o italiano. Esses dois fatores exigiram de nós um olhar muito voltado para a questão pedagógica que acabou alimentando uma discussão bastante política a respeito da produção artística, o que nos fez tomar consciência de como estes três aspectos estão profundamente relacionados no nosso trabalho.
Pedagogicamente os exercícios propostos a partir da coluna vertebral tiveram que ser ministrados com minúcia e divididos em partes. Geralmente, quando trabalhamos com atores e/ou bailarinos, este exercício é aplicado com mais continuidade, pois abordamos conceitos que, em geral, fazem parte do vocabulário dos profissionais. Este detalhamento ajudou-nos a perceber mais de perto a dimensão pedagógica do trabalho que vimos realizando, o que se confirmou na reunião que o grupo generosamente se propôs a fazer dois dias depois de finalizado o workshop para nos dar um feedback.
Politicamente a realização do projeto em Zakinthos marcou o início do desenvolvimento das idéias bastante bem situadas de Lis. A atriz/palhaça tem bastante consciência das limitações da produção artística nas artes cênicas, não apenas na ilha, mas em todo o território grego. Ela compreende que para dar continuidade ao trabalho que já vem fazendo precisa contribuir para a ampliar a percepção sobre as diferentes formas que as artes cênicas (circo, teatro ou dança) podem assumir e ficamos felizes de poder contribuir com o início daquilo que nos pareceu um projeto mais ousado por parte dela. No decorrer do desenvolvimento do “Arte-Pedagogia-Política” vamos buscando meios de dar continuidade a esta parceria.
Artisticamente ficou o enorme desejo de compartilhar nossos espetáculos com o público grego. A proposta do workshop despertou a curiosidade dos participantes sobre a “aplicação” em cena dos conceitos abordados. Particularmente, como orientadores do processo, acreditamos que a vivência artística sempre contribui com a desmistificação dos conceitos.
Em Berlim (saindo de Atenas à caminho de Oldenburg), dialogando com Lambert Blum[1], ele nos questionou sobre como compreendíamos a dimensão política do projeto. Perguntou ele: “Mas o que é o ‘político’ neste projeto?”. Esclarecemos que compreendemos a dimensão política do projeto sob os seguintes aspectos: 1) das políticas culturais (buscamos compreender em linhas gerais como funciona, ou não, a política cultural nos países que estamos visitando para posteriormente conversarmos com eles sobre como esta política está funcionando no Brasil); 2) como as companhias ou artistas identificam sua ação política, no que produzem, no que pensam, no que podem interferir ou como são atravessados pela situação político cultural (como o exemplo de nossa amiga brasileira na Grécia, que a seu modo está buscando intervir consequentemente na cultura local); 3) como a dimensão política local transforma as performances artísticas ao mesmo tempo em que esta é transformada pelas circunstâncias que a circundam, apresentar o “Quando Crescer...” na Grécia, na Alemanha ou na comunidade quilombola de Santa Rita do Bracuí (em Angra dos Reis), por exemplo, transforma a performance e a constrói nestes contatos.
Aos poucos vamos nos dando conta de que estamos falando de uma atuação artística que é inseparável de suas dimensões artística e pedagógica.


[1] Lambert é teórico teatral, especializado na biomecânica de Meierhold, e dirigiu três espetáculos de Norberto.




terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Já na Grécia, finalizando Itália, 31/01/11.


Ainda na Itália ministramos um encontro de três horas com um grupo dirigido por Martin Stigol (do Progetto Zattera), formado por cinco integrantes que no momento estão desenvolvendo uma performance dentro de uma residência. O trabalho se desenvolveu sobre o tema da voz no corpo e abordamos os princípios básicos que vimos desenvolvendo, tais como: os espaços acústicos dentro e fora do corpo; a voz que move o corpo e o corpo que faz dançar a voz.
Já estamos em Atenas finalizando o registro do encontro com o Progetto Zattera, que produziu o desejo forte de continuidade no diálogo por força das soluções que o Progetto precisa encontrar para a própria subsistência e por percebermos como essas pequenas soluções, aos poucos (ou melhor, ao longo de muitos anos), vão transformando a realidade em volta. Por certo percebemos também que uma possível visita do Progetto ao Brasil, encontrando-se com outras realidades, como a dos parceiros do Teatro da Laje, pode vir a produzir uma “fermentação” interessante em ambos os lados. Saímos da Itália já buscando viabilizar o desejo deste encontro na segunda fase do projeto em abril no Rio.
Estamos em Atenas, onde ficamos 2 dias até embarcarmos para Zakinthos, e lá desenvolveremos o workshop "O Corpo entre a Dança e o Teatro". O cartaz do encontro (em grego!) segue abaixo.



sábado, 29 de janeiro de 2011

Varese, 27 de janeiro de 2011.

“Sei stata bavíssima oggi!”
Dani, 5 anos.

Aqui vai um depoimento emocionado! Domingo, 23 de janeiro, fizemos a apresentação do “Quando Crescer, Eu Quero Ser...” na cidade de Varese, norte da Itália, do ladinho de Milão. Era a comemoração dos vinte anos do Progetto Zattera, uma associação que se dedica ao trabalho para crianças e jovens, a partir das Artes Cênicas, reunindo teatro, literatura e um pouco de danças populares.
Foi a primeira vez que apresentei este espetáculo para o público infantil italiano. Em 2007, quando estive na Itália, apresentei o mesmo espetáculo ainda muito muito “fresco”, era a 4ª apresentação e, pra quem nos conhece, sabe que nosso trabalho vai se fazendo no encontro com o público, como era o apenas o 4º encontro, pode-se imaginar o quão frágil ainda estava o espetáculo. Mas aquela ocasião, em 2007, era igualmente especial, porque foi feita para as crianças do povo Saharawi, uma nação que vive refugiada no Saara Ocidental, sem direito à terra. Na ocasião tinha um grupo de crianças Saharawi e italianos adultos, as crianças estavam bastante curiosas do trabalho e os adultos presentes muito generosos com o espetáculo.
Neste domingo, em Varese, já com o espetáculo bastante maduro, tivemos o primeiro encontro com o público infantil italiano, o que, sem dúvida, causava uma certa apreensão. E, para resumir um pouco, a frase que vai na epígrafe deste texto ouvi no final desta apresentação. Para mim, realmente, não precisa mais nada! Talvez uma taça de um bom vinho italiano para celebrar não apenas o sucesso do espetáculo, mas o encontro com o Progetto Zattera, compartilhando o desejo (por caminhos bastante diferenciados) de produzir para crianças e jovens.
Fica registrado aqui também (de maneira igualmente emocionada!), porque acreditamos que aquilo que está produzindo bons resultados deve ser comentado, a importância da parceria com o Ministério da Cultura e com a Funarte. Quando somos contemplados pelos editais públicos nos empenhamos em fazer com que este investimento produza relações de continuidade que possam gerar outros projetos ou outras ações de cooperação que, sem o investimento primeiro, talvez nunca pudessem acontecer. Assim, o Teatro Xirê pôde realizar seu trabalho de um extremo a outro do planeta. Do Equador à Índia, passando por festivais profissionais ou situações mais sociais e formativas, estivemos com nossos espetáculos emocionando e surpreendendo platéias e, sem dúvida, aprendendo muito com elas.
Retornar à Itália depois de 4 anos e olhar para o percurso percorrido, tendo o retorno que tivemos neste domingo, não apenas das crianças, mas também dos adultos presentes, alguns deles brasileiros residentes, nos faz acreditar que temos trilhado uma estrada, no mínimo bastante coerente, nos faz felizes!!!
Escrevo do ponto de vista do Teatro Xirê porque este “depoimento emocionado” se refere à apresentação de domingo, mas a realização e idealização deste projeto onde estamos inseridos, não seria possível sem a existência da Trânsito Produções que, em si, é também fruto deste caminho percorrido.
Na foto abaixo (de Karen Berestovoy) estamos, da esquerda para a direita, na fila em pé (de adultos!): a terceira sou eu, Andrea Elias (idealizadora e proponente deste projeto); Norberto Presta (coordenador do projeto que organizou este “périplo” pela Europa) e Martin Stigol (diretor do Progetto Zattera).
Fizemos com o Zattera uma entrevista que será postada em breve. Até a próxima!




Ainda em Barcelona, 19/01/11.

Na 3ª feira (18/01) assistimos um ensaio do último espetáculo da companhia, chamado “El Mal Menor”, que aconteceu no espaço onde têm sua sede de trabalho. Nesta semana eles apresentam o espetáculo fora de Barcelona e na semana que vem no “Mercat de les Flores”, espaço de referência da Dança em Barcelona. Como não conseguimos coordenar nossas datas para nenhuma das apresentações, assistimos um ensaio que eles generosamente abriram para nós.
Aqui vai o relato de Pablo Molinero (Los Corderos) sobre nossa semana de trabalho. Eles têm um projeto chamado “Encontronazos” dentro do qual prevêem o encontro com outras companhias e inauguramos o projeto.
Segue em castelhano porque uma das coisas que temos presenciado no projeto, e quem tem sido muito bonita, é o esforço que temos empenhado em nos compreender nas diferentes linguagens. Esforço este que convido os visitantes deste blog a fazer!

Então, por Pablo Molinero:

En el marco de planificación de los primeros encontronazos 2011-2012 se llevó a cabo el primer encuentro entre loscorderos y la compañía Teatro Xire (de Brasil), en el espacio de creación Can Gasol de Mataró.
En unas primeras sesiones se orientó el trabajo de manera que cada compañía, de forma alternativa cada día, se hiciera cargo de guiar las sesiones con el fin de exponer y compartir su vocabulario de trabajo. Estas sesiones primeras no iban destinadas tanto a enseñar ejercicios o estéticas artísticas, como a establecer puntos de contacto -algunos en común y otros enfrentados- en el trabajo propio de cada compañía en relación a temas básicos del trabajo escénico.
Algunos de estos temas pueden ser el trabajo con el cuerpo a partir de pautas específicas (focalizadas por ejemplo en la columna vertebral), el trabajo con el espacio (diferentes enfoques entorno a la composición espacial), el trabajo con el tiempo (la dilatación), el trabajo relacionado con la escucha (en base a impulsos recibidos de los compañeros), el trabajo con la voz y los resonadores, con el texto, etc.  Aunque son temas recurrentes en el trabajo escénico que todo creador ha de plantearse y trabajar -por lo que no suponían una novedad para nadie- lo interesante ha sido observar y cuestionar las perspectivas y los enfoques de dichos temas por parte de cada uno de los integrantes. Ahí es donde aparecieron las dudas y las aseveraciones particulares de cada uno, puestas en común y en contraposición. Una labor importantísima en el crecimiento profesional y que raramente tenemos el tiempo y el espacio para debatir y cuestionar mediante la práctica y en colaboración con otros profesionales.
Un capítulo a parte que mereció especial atención y dedicación, fue la relación entre el cuerpo y la voz. Pues ambas compañías pertenecemos al indefinido territorio que no renuncia a ninguna de las posibilidades expresivas ni del movimiento ni del texto, sin casarnos por ello con convenciones estrictamente dancísticas o teatrales, sino con la impredecible mezcla de ambas.
En una segunda etapa de los encuentros  -y una vez establecido un suelo común de trabajo (conceptos práctico-técnicos compartidos, tanto sobre el cuerpo como sobre la voz, perspectivas cuestionadas y encontradas, etc.)- surgió la necesidad de enfrentarse a esos temas en común en relación a materiales artísticos concretos. Esto quiere decir que empezamos a trabajar dichos conceptos relacionándolos con textos, propuestas físicas o dramatúrgicas específicas aportadas por ambas compañía. Es decir, la dimensión creativa del trabajo artesanal. En esta fase las sesiones fueron conducidas simultáneamente por todos los miembros de ambas compañías en permanente diálogo, abandonando por lo tanto los terrenos conocidos y guiados por una compañía u otra, y adentrándonos en los territorios comunes como profesionales individuales, pero desconocidos como grupo colectivo.
Surgieron también aquí muchas reflexiones de ámbito más teórico entorno a cuestiones dramatúrgicas del trabajo. Entorno a cuestiones concretas de ciertas improvisaciones, pero también relacionadas con cuestiones dramatúrgicas más generales. Se habló de la dramaturgia invisible que surge entre cuerpos conectados en el espacio por ciertas pautas de trabajo -en su mayoría pautas físicas- y su aportación a percepciones más teatrales. Y también de la aparición de la voz en ciertas situaciones, el modo de relacionarla dramatúrgicamente con el cuerpo, con el resto de compañeros, con el espacio, y de las posibilidades de significado y sentido del texto en relación a dichas situaciones físicas.
Como conclusión, más allá del resultado artístico de ciertas propuestas concretas en las que se profundizó y que no vamos a valorar aquí -pues no es ése el objetivo último de los  encontronazos 2011-2012- la percepción global de todos los participantes ha sido muy positiva. Hay una expresión común en la que todos coinciden al valorar la experiencia, enriquecimiento profesional. Además de permitir que cada compañía indagara en ciertos temas creativos que le interesan actualmente –como propuestas de ciertos textos concretos, situaciones teatrales, pautas físicas, etc.- ha sido sobretodo, una vía muy fructífera para afianzar conocimientos y ampliarlos. Yendo más allá de una mera muestra o exhibición de diferentes formas de trabajar, y  más allá también de una mera colaboración artística entre dos colectivos, que pactan una tierra común entre sus diferentes estéticas. Se ha tratado más bien de profundizar en nuestro oficio y sus enfoques prácticos, entre profesionales de distintas procedencias y estéticas pero preocupaciones comunes. Cuerpo y voz. Espacio. La escena.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Barcelona, 12 de janeiro de 2011

Hoje estivemos num espaço chamado La Caldera, que nos chamou bastante a atenção pelo seu histórico e pela maneira criativa e cooperativa com que aparentemente administram o lugar. Chegamos até eles por indicação de Leo Castro, atriz e bailarina que é companheira de Pablo Molinero, do Los Corderos. Carles Mallol, fundador da companhia Senza Tempo, nos recebeu super bem e nos apresentou o espaço.
Trata-se de um galpão com três grandes estúdios, um em cada andar, uma pequena sala de apresentação com cerca de 70 lugares no andar térreo, um “espaço de convivência” (um bar com pequeno serviço e ampla sala para promover o encontro entre os residentes e visitantes, promover conversas, reuniões). No mesmo andar do “espaço de convivência” esta a “principal”, sala onde se concentram os escritórios das companhias fundadoras da Caldera.
O que nos chamou a atenção foi a forma de administração do espaço, que é privado mas que sobrevive com subvenção pública, neste caso das três esferas de governo. Logo no início a Caldera era um espaço muito alternativo, sem aquecimento, frio, e funcionava em um andar somente. Com o desenvolvimento do projeto foram ganhando outros andares do prédio e hoje ocupam o prédio inteiro com projeto de comprá-lo nos próximos anos.
São quatro companhias de dança fundadoras do lugar e, ao todo, são 12 companhias residentes, todas com um pequeno escritório funcionando no lugar.
Além das companhias residentes o espaço desenvolve também projetos sociais que ainda não tivemos muito tempo de examinar como funcionam. O bacana foi conhecer uma idéia cooperativa de administração de um espaço privado, que se mantém com dinheiro público e favorece a existência de outras companhias. Os escritórios das companhias não estão em salas privadas, mas em mesas vizinhas umas às outras, o que acaba promovendo o encontro entre elas e uma espécie de caos criativo no espaço. Isso, para nós, foi bastante interessante observar: que as companhias trabalham em cooperação, não estão cada uma fechada em seu espaço esconde seus projetos umas das outras, ao contrário, estão convivendo com seus problemas de diversas ordens e alimentando um projeto em comum enquanto desenvolvem seus próprios projetos.
Assim como La Caldera, a maioria das companhias e espaços que mantém um trabalho significativo recebem subsídio público, o que é bastante positivo por um lado, mas que parece também causar uma espécie de dependência não muito saudável por outro, mas isso é tema para uma reflexão específica que pretendemos postar daqui a pouco.


segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Barcelona, 6 a 8 de janeiro de 2011.

O diário de hoje vai como resumo dos três últimos dias. A postagem ficou atrasada porque dia 6 terminamos muito tarde e dias 7 e 8 trabalhamos o dia inteiro para podermos ter o domingo livre, chegamos ao fim do dia muito cansados, então, lá vai um resumo dos três últimos dias do nosso encontro que, teoricamente, terminaria por aqui, mas nos parece que voltaremos a nos encontrar na próxima semana. Vejamos como segue o fluxo dos acontecimentos...
Nos últimos três dias seguimos trabalhando com as frases de movimento que criamos, jogando algumas “pautas” com elas, o que quer dizer que tínhamos uma frase de movimento-ação, que a uns apetece chamar “partitura”, a outros “seqüência”, e eu, por exemplo, chamo “frase”. Praticamos o exercício de jogar o que David e Pablo (Los Corderos) costumam chamar "pautas": regras simples e objetivas que devem ser seguidas pelos jogadores; a pauta pode ter início, meio e fim, como um jogo de improvisação teatral e suas regras e condições são sempre físicas. Em todas as “pautas” propostas tínhamos a frase de movimento que criamos juntos como material que nos colocava num território comum, uma espécie de texto que podíamos dizer em coro ou através do qual dialogar, embora tenhamos também trabalhado com a voz falada e com alguns fragmentos de textos que, no decorrer dos dias de trabalho, acabaram de algum modo se integrando.
A seqüência / partitura / coreografia foi usada como uma espécie de gramática para jogarmos em grupo.
Com a seqüência de movimento criada jogamos algumas “pautas” e durante as improvisações tocamos alguns lugares que nos pareceu interessante aprofundar um pouco mais. Assim, começamos a recriar algumas situações de improvisações sempre a partir da “pauta” e nunca a partir da situação criada. O objetivo não era repetir o que havia sido feito anteriormente, nem recuperar nenhuma situação de movimento, nem eles nem nós trabalhamos sobre o princípio da repetição. O objetivo era mesmo o de ir mais fundo em algumas situações que nos pareceram interessantes e verificar até onde podíamos ir com ela.
Do meu ponto de vista, muito particular, aqui se evidencia o problema da escritura cênica. Embora ele já esteja presente no momento em que começamos a improvisar e selecionar pequenos pontos aos quais regressar para criar uma pequena seqüência de movimento, quando precisamos voltar a alguns lugares já experimentados, aprofundar suas atmosferas, explorar suas linhas de tensão e, quem sabe, seu desenho no espaço, improvisando com outros corpos, atuamos de maneira mais evidente no exercício da escrita e, por conseguinte, na questão dramatúrgica, ainda que nós quatro tenhamos feito o árduo exercício de não colocar nossas idéias sobre o que estava acontecendo a não ser pela proposição das “pautas”.
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Ao final de um desses dias de trabalho sugeri a Pablo e David pensarem sobre a pergunta: “Que tipo de interesse poderia nos unir se fôssemos pensar um projeto em comum?”.
Mais uma vez apareceram dois pontos reincidentes em nossas conversas: o corpo no território "entre" e a formação neste território. Sobre o primeiro ponto o que conversamos foi que esta história do corpo entre a Dança e o Teatro não está para nós como um objetivo em si, mas como uma consequência de nossos modos de pensar e construir a cena, não é um propósito a priori. Todos nós passamos por classes de dança e teatro em nossas formações, e o que nos ficou delas foram os princípios que nos possibilitam colocar o corpo no tal estado de comunicação potente que falamos dias atrás. Então, neste sentido, não estamos preocupados em nos definir dentro de uma certa linguagem, o que para todos nós, muitas vezes, é um problema para preenchimento de ficha técnica ou solicitação de financiamento.
E quando falamos sobre a nossa própria formação tocamos também aquela que nos propomos fazer quando ministramos um workshop, pois aí também não se trata de ensinar formas ou fórmulas, quando pensamos sobre a formação que queremos proporcionar o fazemos a partir dos conceitos que desejamos expandir e aprofundar. Aqui começamos a refletir sobre o propósito deste projeto, as relações entre arte, pedagogia e política. O bom é que chegamos a isto a partir de nossa prática, como convém ao nosso modo de pensar, e não sobre uma "reflexão exclusivamente teórica" sobre os conceitos implícitos ao projeto que ora desenvolvemos.